Olá, polêmicos! Quem aqui já ficou borrachudo? Calma, calma, esse é um adjetivo utilizado para descrever quando o freio da sua moto apresenta aquela sensação esponjosa ou macia ao ser acionado, o que pode comprometer a capacidade de frenagem. Para evitar esse tipo de situação, é essencial manter uma manutenção regular dos sistemas de freio.
Essa é uma matéria bem mais longa do que o usual, mas está repleta de informações importantes. Então, sigam-me os bons!
Funcionamento do Sistema de Freio
Antes de tudo, é importante entendermos como funciona basicamente o processo de frenagem. Existem dois tipos principais de sistemas de freio em motocicletas. O freio à tambor, que é mais simples e se dá por um acionamento mecânico. Por muito tempo foi utilizado em ambas as rodas das motos de menor potência, ou apenas na roda traseira das motos maiores. Ao longo dos anos, esse sistema foi cada vez mais sendo substituído pelo freio a disco, que é mais eficiente e se vale de um mecanismo hidráulico de transmissão de força. Ambos operam com base no atrito, que é a resistência ao movimento quando duas superfícies entram em contato. Quando você aciona o freio, está iniciando um processo que transforma a energia cinética (energia de movimento) do veículo em energia térmica (calor), através do atrito gerado entre componentes específicos. Essa conversão desacelera as rodas e, consequentemente, a moto.


Os sistemas de freio são compostos por
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um dispositivo de acionamento –
manete ou pedal de freio,
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que, por meio de dispositivos de transmissão de força –
mecânicos no freio a tambor, com um cabo de aço flexível ou haste metálica, conhecida como varão;
ou hidráulicos no freio a disco, através de um fluido incompressível dentro de uma mangueira,
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movimentam elementos de atrito –
lonas de freio ou pastilhas
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em direção aos componentes de frenagem presos às rodas –
paredes do tambor de freio ou a superfície do disco,
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que, por sua vez, desaceleram a sua velocidade de rotação.
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Ao liberar o freio, os componentes retornam à posição inicial,
eliminando o atrito e permitindo que as rodas voltem a girar livremente.
Entendendo a Necessidade de Manutenção
Agora que já entendemos o funcionamento básico do sistema de freio, vamos conseguir compreender melhor porque é tão importante realizar os serviços de revisão e manutenção, como trocar fluido de freio e conferir as pastilhas ou lonas.
Pastilhas ou Lonas de Freio

O que são: As pastilhas de freio, utilizadas em freios a disco, são duas placas metálicas revestidas com uma camada de material de atrito. Elas são montadas dentro da pinça de freio, em ambos os lados do disco, e, durante a frenagem, são pressionadas contra ele.

Por sua vez, as lonas de freio, utilizadas em freios a tambor, são duas sapatas metálicas em formato de meia lua com uma camada de material de atrito. Durante a frenagem, elas são pressionadas contra as paredes internas do tambor de freio.
Sinais de desgaste das pastilhas e lonas: Com o uso contínuo, as pastilhas e lonas vão se desgastando e podem gerar uma sensação de trepidação na manete ou pedal e emitir ruídos ao frear, como sons de rangidos ou de fricção metálica, indicando a necessidade de substituição. À essa altura, já é possível também perceber uma redução na eficiência de frenagem.
Além disso, o tambor tem uma marcação que indica quando a lona está chegando ao fim, sem precisar desmontar para conferir, mas durante as revisões é interessante checar se as lonas desgastaram de forma desigual, gerando pontos de maior e menor contato. Na frenagem a disco, o nível baixo do fluido pode ser um indicador de final de vida das pastilhas, como já dissemos. Em muitas motos é possível visualizar as pastilhas, sem precisar desmontar a pinça.
O manual de serviço da montadora indica a espessura mínima que uma pastilha ou lona pode chegar, que em geral é de 2mm.

Muitos modelos de pastilhas tem também algumas ranhuras no material de atrito, que, quando desaparecem, é porque chegou o seu limite de uso.
Por quê trocar: Em primeiro lugar, por causa da redução significativa na capacidade de frenagem, como já falamos.

E em segundo lugar, para evitar custos maiores, uma vez que, quando o material de atrito acaba, a base metálica fica exposta e a fricção ferro no ferro pode danificar os tambores e discos de freio.
Como escolher: As pastilhas tem desenhos específicos para encaixar perfeitamente em cada modelo de pinça. E o material de fricção pode ser feito de compostos orgânicos, metálicos, semi-metálicos, cerâmicos e sinterizados, cada uma com sua durabilidade, grau de eficiência, de agressividade ao disco e de geração de ruído e resíduos. Mas esse assunto, por ser muito extenso, vai ficar para uma próxima matéria.
As lonas de freio, por sua vez, tem variações de tamanhos de acordo com o modelo de moto e tem poucas opções no mercado, afinal, já há alguns anos, a grande maioria das motos migrou para o sistema de freio a disco, como já falamos. Antigamente, as lonas eram feitas de amianto, mas devido aos riscos à saúde, esse material foi proibido. Atualmente, são fabricadas com compostos metálicos.
Onde trocar: O ideal é que esse trabalho seja executado em oficinas especializadas, pois podem exigir cavaletes, chaves específicas e expertise na montagem.
Fluido de Freio

O que é: O fluido de freio é um líquido formulado para não se comprimir sob pressão e resistir a altas temperaturas sem ferver ou perder eficiência. Isso é crucial porque, durante a frenagem, o sistema pode atingir temperaturas elevadas resultantes do atrito.
Higroscopicidade: Esse fluido tem natureza higroscópica, o que significa que ele absorve umidade do ambiente ao longo do tempo. Essa absorção de água pode reduzir o ponto de ebulição do fluido, levando a uma possível falha na frenagem em situações de alta demanda. Isso pode resultar em um acionamento “borrachudo” dos freios.
Classificação: O Departamento de Transportes dos Estados Unidos criou uma classificação para os fluidos de freio de acordo com sua composição química e ponto de ebulição, estabelecendo requisitos mínimos de desempenho e padrões de segurança.

São divididos assim em DOT 3, com ponto de ebulição entre 140 e 205°C; DOT 4, com ponto de ebulição entre 155 e 230°C; e DOT 5.1, com ponto de ebulição entre 190 e 270°C. Fique atento ao manual do proprietário para verificar o fluido de freio indicado para a sua moto, que, na grande maioria dos casos, é pelo menos DOT 4.
Verificação do Nível: O reservatório é responsável por manter a linha sempre cheia de fluido mesmo com as variações de temperatura e o desgaste progressivo das pastilhas, que vão necessitando ser empurradas por um curso cada vez maior até morderem o disco.

Através das marcações de mínimo e máximo é possível verificar se o nível está dentro do recomendado. Isso deve ser feito com frequência, pois um nível baixo pode indicar que a pastilha de freio esteja quase acabando ou que exista algum vazamento no sistema.
Por quê trocar: É importante realizar a troca do fluido por prevenção dentro do prazo indicado pelo fabricante, que geralmente é de 1 a 2 anos, dependendo da moto e do tipo de uso, mesmo que não apresente nenhum sintoma de defeito. Esse serviço deve ser feito com critério, juntamente com a sangria dos freios, que nada mais é que a retirada de ar do sistema.

Agora, se você perceber que o fluido está com aparência escurecida ou turva, isso é um indicativo de contaminação ou degradação e é necessário fazer sua substituição imediata.
Além disso, aquela sensação de que o acionamento do freio está “borrachudo”, com um curso muito grande da manete/pedal e perda de eficiência, pode ser sinal de fluido degradado e/ou presença de ar no sistema. Caso ainda esteja dentro do prazo de troca ou você tenha feito recentemente esse serviço, pode ser que o fluido utilizado seja de qualidade ruim ou fora da especificação, que ainda tenham restado bolhas na mangueira ou algum outro componente esteja com defeito, como vamos falar na sequência. E sempre que você fizer a substituição de algum item do sistema, será necessário realizar a troca ou a conferência do nível e da sangria do freio.

Onde Trocar: O ideal é que esse serviço seja executado em oficinas especializadas, que possuam o aparato necessário e o conhecimento técnico. No entanto, se você tiver um pouco de paciência e habilidade, vai ver que não é um bicho de sete cabeças.
Cilindro Mestre de Freio
O que é: Também conhecido como burrinho de freio, é a peça responsável por pressurizar o fluido dentro da mangueira através da movimentação do seu pistão interno por um duto interno quando o piloto aperta a manete ou o pedal. Junto com esse pistão, há também anéis de vedação feitos com extrema precisão para garantir que o fluido não retorne ou vaze para fora do sistema, e uma mola que faz com que esse conjunto volte à posição inicial quando o piloto para de frear. Esse grupo de peças é chamado de reparo.
Quando trocar: Com o uso e o passar dos anos, esse reparo vai perdendo sua eficiência, pelo desgaste natural do tempo. Assim, seus anéis podem rachar ou endurecer e não vedar adequadamente, permitindo que o fluido de freio passe pelo pistão e comece a entrar ar no sistema. Como consequência, a frenagem não alcança mais a pressão necessária e a manete ou o pedal de freio afundam mais do que o normal, oferecendo menos resistência e dando a sensação de freio “borrachudo”. Além disso, o fluido de freio vai se degradando e acumulando umidade no sistema ao longo do tempo e isso pode causar corrosão interna no duto do cilindro mestre e impedir que o pistão se movimente suavemente.
Por quê trocar: Se o freio não estiver 100% e os outros componentes não apresentarem defeito, é a hora de checar o cilindro mestre de freio. Caso ele retome seu correto funcionamento apenas com a troca do reparo, problema resolvido, mas em muitos casos esse serviço acaba não sendo bem sucedido e aí não resta alternativa a não ser trocar o burrinho.
Como escolher: Dê sempre preferência para peças originais, tanto para o reparo quanto para o cilindro completo. Contudo, por serem peças com valores muito altos para a grande maioria das motos, muitas vezes acaba sendo necessário partir para opções paralelas. Aí o conselho é pesquisar bem e dar preferência para marcas de melhor qualidade. Não economize muito nessa escolha, pois isso pode virar um retrabalho e um perigo para a sua segurança.
Onde trocar: Em oficinas especializadas de sua confiança.
Mangueiras de Freio

O que são: Componentes essenciais do sistema de frenagem hidráulica, as mangueiras, também chamadas de flexíveis, tem a função de transportar sob pressão o fluido de freio do cilindro mestre até as pinças. Os flexíveis de freio precisam ser resistentes à pressão, corrosão e temperaturas altas, e, ao mesmo tempo, ter flexibilidade para manter seu funcionamento mesmo com a movimentação do guidão e das bengalas. Existem opções feitas de borracha sintética, que vem na grande maioria das motos; e as mangueiras chamadas de aeroquip, compostas por um tubo interno de PTFE (teflon) envolto por uma malha trançada de aço inoxidável.
Quando trocar: A recomendação das montadoras é a troca das mangueiras de freio, em geral a cada 5 anos. Além disso, é indicado realizar periodicamente a conferência visual das mangueiras quanto a sinais de desgaste e/ou vazamentos, e estar sempre atento à qualquer perda de eficiência na frenagem. Aquela sensação de freio “borrachudo” pode também ter sua origem em mangueiras de freio que já perderam parte de sua resistência, começando a inchar mais em alguns pontos e reduzindo a pressão do fluido. Nesses casos, é indicada a sua substituição.
Por quê trocar: Esse é um item de segurança que precisa estar sempre em dia para manter a pressão adequada do sistema de freio e garantir sua eficiência.
Como escolher: Utilize mangueiras de qualidade compatíveis com o modelo da sua moto, preferencialmente originais ou de marcas reconhecidas. As mangueiras de borracha no geral tem valores mais acessíveis, mas se expandem ligeiramente com a pressão e degradam um pouco mais com a exposição contínua a variações de temperatura. Já as mangueiras aeroquip, graças à malha de aço, evitam essa dilatação, e tem maior durabilidade e estabilidade térmica, mas são mais caras e podem danificar componentes próximos se não vierem com uma cobertura protetora.
Onde trocar: Procure um mecânico de confiança ou oficina especializada para realizar a troca de mangueiras de freio.
Cabo e Varão de Acionamento do Freio a Tambor

O que são: Na frenagem a tambor é o cabo ou o varão de acionamento do freio (uma haste metálica) que fazem a função de transmitir a força aplicada pelo piloto, através da manete ou do pedal, diretamente para a alavanca fixada no tambor que força as lonas a se expandirem contra as paredes internas.
Quando trocar: É indicado periodicamente inspecionar visualmente o cabo para checar se existem sinais de desgaste, como fios rompidos ou desfiando, rachaduras ou cortes na capa, ou a presença de ferrugem. O varão de freio também precisa de uma inspeção visual para checar se não está desgastado, com deformidades ou fissuras. Um acionamento do freio mais difícil do que o normal, atrasos na resposta da frenagem e/ou a necessidade de ficar fazendo ajustes com muita frequência para eliminar folgas podem ser também sinais de desgaste dessas peças.
Por quê trocar: Principalmente pela segurança, uma vez que um cabo danificado pode se romper durante o uso, causando perda de frenagem. A troca preventiva também é fundamental para garantir uma resposta mais rápida e eficiente dos freios e evitar o desgaste prematuro de outros componentes do sistema.
Como escolher: Certifique-se de que o cabo é compatível com o modelo e ano da sua motocicleta e utilize sempre peças originais ou de marcas confiáveis, que atendam aos padrões de qualidade.
Onde trocar: Procure um mecânico de confiança ou oficinas especializadas.
Considerações Finais
A essa altura, você conseguiu compreender com clareza como a manutenção adequada dos freios é crucial para a segurança. Para não nos alongarmos mais, vamos às dicas finais:
- Cuidado na substituição de manetes por modelos paralelos: As manetes possuem formatos e curvaturas específicos para garantir o curso necessário para pressionar o êmbolo que fica dentro do burrinho de freio. Alguns modelos paralelos, principalmente aqueles esportivos, não seguem as medidas exatas dos originais e o freio não chega nunca na sua eficiência total, mesmo fazendo a troca do fluido e a retirada correta de ar do sistema.
- Limpeza e lubrificação das pinças e tambores: Dentro do tambor, vão se acumulando os resíduos decorrentes do desgaste do material de atrito, podendo prejudicar a livre movimentação das molas e do êmbolo que promovem a expansão e retração das lonas. A limpeza e lubrificação desses componentes então é fundamental para garantir o livre funcionamento do freio. As pinças, além da sujeira decorrente do desgaste das pastilhas, também sofrem com água, lama e pó das ruas por estarem naturalmente expostas. Elas possuem pinos deslizantes protegidos por guarda-pós em formato de coifas para permitir a movimentação lateral durante a frenagem. Portanto, esses pinos precisam ser mantidos limpos e lubrificados com graxa especial, para não danificar os guarda-pós, e esses últimos, caso estejam rasgados, necessitam ser substituídos. A limpeza geral da pinça garante ainda que seus pistões internos se movimentem livremente para empurrar as pastilhas contra o disco e deixar que elas retornem.
- Condução preventiva: Evite sobrecarregar os freios com frenagens bruscas desnecessárias, como também andar o tempo todo com o pé estacionado sobre o pedal de freio.
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